A repórter Carol Anne Szel, da Goldmine Magazine, conduziu uma entrevista com o lendário Ozzy Osbourne, que falou sobre sua carreira, Beatles, problemas com drogas, dentre outros assuntos.
Confira abaixo a tradução da entrevista na íntegra, com exclusividade no IMPRENSA ROCKER:
Ele é o homem que não deveríamos ver por trás da lenda. O homem que nos dará coração, cérebro e o caminho de casa. O místico, o onisciente, o onipotente Oz. Ao falar sobre tudo, Ozzy Osbourne nos leva através da estrada de tijolos amarelos até sua casa, sua mente e, algumas vezes, sua alma.
“Eu nunca gastei tanto tempo assim em nenhum outro disco que já fiz”, Ozzy fala de seu novo álbum, “Scream”. “Começamos há um ano e meio. Quer dizer, não passamos um ano e meio trabalhando nele. Nós íamos, fazíamos um pouquinho, então fazíamos outra coisa e voltávamos para ele”.
Este notório Príncipe das Trevas gravou 10 discos de estúdio com o Black Sabbath, vendeu mais de 50 milhões de cópias como artista solo, esgotou shows ao redor do mundo várias vezes. Ele tocou no Moscow Peace Festival, no US Festival, Live Aid e se apresentou no Queen Elizabeth’s 50th Jubilee Celebration no Palácio de Buckingham. Além disto, ele jantou com o Presidente Bush, ganhou diversos Grammy, teve seu próprio reality show na MTV, “The Osbournes”, entrou no Rock n’ Roll Hall of Fame, recebeu uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood e lançou o primeiro festival norte-americano dedicado à música pesada, batizado de Ozzfest.
No “Scream”, Ozzy relata que com seu estilo de compor “fica difícil escrever sobre o garoto que conhece a garota, então eles brigam, a chuva cai, então o sol brilha e eles voltam para as nuvens da merda”. “Eu vou atrás da melodia. Uma coisa que eu peguei dos Beatles: eles sempre tiveram grandes melodias e harmonias. Você pode pensar sobre que porra eu estou falando, mas encaixa na música”.
Produzido por Ozzy e Kevin Churko – que também trabalhou no “Black Rain”, último disco do Madman – Ozzy explica que com “Scream” eles quiseram um som “old school”, usando as tecnologias atuais. “No passado nós achávamos um lugar, começávamos a tocar com a banda e fazíamos umas jams”, fala Ozzy. “Mas neste disco, com Kevin Churko, nós desenvolvemos a base e minha banda tocou em cima desta base. Então eu meio que perco a carga espiritual da coisa quando fazemos desta maneira atual. Eu não estou desapontado. Estou realmente satisfeito como tudo ocorreu, mas prefiro que seja um trabalho de banda.
Ele é inflexível, entretanto, quando diz que “é um álbum de Ozzy Osbourne, mas Churko apertou os botões e tirou os sons. Eu tinha a impressão de que você não consegue tirar um som pesado na gravação digital, mas isto é besteira, porque o material deste disco é muito, muito pesado”.
Com a maioria das canções do “Scream” co-escritas com Churko, Ozzy revela que “a questão são as letras. Tenho problema com as letras, porque começo algo, chego em algum lugar, mas tenho que concluir. Kevin e eu esticamos as coisas para frente e para trás. Para se ter uma idéia, acho que foi “Let Me Hear You Scream”, foi escrita sete vezes”. Esta canção é o primeiro single do disco, estreou no top five das paradas de Mainstream Rock e no top ten nas paradas de Active Rock, além de ter sido trilha de um episódio da série “CSI:NY”. “Tem uma porção de outras letras (para esta música). Um dia lançarei todos os outros versos”!
Explicando seu estilo e liberdade musical, Ozzy diz que “ser Ozzy Osbourne e estar atrás desta imagem de Satã e louco restringe o que você pode fazer. Este álbum, para mim, tem umas vibrações do Sabbath, do Ozzy e algumas coisas modernas, mas não muito”.
Quando o assunto é música e a direção para onde a indústria vai se encaminhando, Ozzy insiste que “é uma boa pergunta, porque estaria fodido se soubesse. Tem horas em que ando por aí com a cabeça no traseiro”.
Ele relembra: “eu estava na Sunset Strip com Sharon há pouco, e lá tem uma banca onde sempre compro os jornais ingleses. Eu disse ‘vamos na Tower Records (Nota do redator: uma das maiores lojas de CD’s e DVD’s dos estados Unidos) e ver se eles tem o disco novo da Sheryl Crow. Então entrei na loja, e estava vazia. Eram três ou quatro horas da tarde. Eu perguntei ao vendedor se ele tinha o disco novo da Sheryl Crow, e ele respondeu ‘sim, tenho muitos. Quantos você quer’? É o que está acontecendo. Todo mundo saiu da realidade para a ilusão, no sentido de que todo mundo agora só quer ficar sentado nas porras de suas casas, na frente do computador. Todos foram para o interior de suas cavernas. Agora nós temos que ir à porra do JC Penney (NR: grande rede de lojas de departamento nos Estados Unidos) e toda esta merda, ou a cafeterias para comprar música, o que é triste. Provavelmente foi o que aconteceu com os filmes mudos que, de repetente, desapareceram quando as obras faladas surgiram.
Por outro lado, Ozzy mostra-se simpático aos músicos atuais. “Eu também fiquei chocado quando descobri o que as novas bandas têm que fazer para conseguir um contrato com uma gravadora hoje em dia. Eles (as gravadoras) ficam com parte do dinheiro da divulgação, direitos autorais, cachê de shows. É ridículo. Ao mesmo tempo, eu tive muita sorte em ter minha carreira. Tive muita sorte. Eu estou indo em frente. As pessoas perguntam se estou me aposentando, mas o lance é que eu não sou nenhum jovem. Se meu público começar a diminuir, então verei como um sinal de que é hora de pendurar meu microfone. Não quero sair de estádios para tocar em bares”.
Para seu imenso número de fãs, e para ele mesmo, a aposentadoria não é uma opção, já que Ozzy permanece tão relevante hoje quanto era no começo de carreira, há 40 anos. Sobre a razão de sua longevidade, Osbourne responde: “eu não sei, e particularmente não quero saber.Mas estou feliz (de ter durado). Estava pensando em alguém como o Journey, ou outra banda como eles, que costumavam encher estádios. Alguns grupos acabam indo tocar em pequenas casas de show. Eu não posso fazer isso”.
Com relação a artistas com grande longevidade, Ozzy cita uma de suas inspirações musicais. “Eu sempre fui um fanático pelos Beatles, Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr”. “McCartney tem 66 anos, cara, e ele ainda consegue atingir aquelas notas. Eu tenho problemas em cantar algumas notas. Ele me motiva”!
“Eu encontrei Paul McCartney e Ringo Starr em algumas ocasiões. Os outros não. E, infelizmente, alguém derrubou um deles. Eu lembro onde estava. Exatamente onde estava, quando foi, que horas eram. Eu estava em Wales. Estava escrevendo e ensaiando, então Sharon me ligou e disse ‘você não vai acreditar no que aconteceu’. Ela disse ‘atiraram em John Lennon ontem a noite’. Minha porra de mundo parou. Foi como quando Kennedy morreu. Mas um cara como Lennon… isto parou meu mundo”.
Ele pondera: “eu nunca os vi tocando. Seria maravilhoso se Lennon não tivesse sido atingido e não tivesse esta morte horrível. Se eles tivessem se reunido, reinariam novamente”.
Sobre o melhor de seu catálogo, Ozzy diz que não tem uma música preferida. “Tem álbuns que eu gosto mais que outros, quer dizer, ‘Blizzard of Ozz’ com Randy Rohads foi um disco muito especial. ‘Bark at the Moon’ foi ok, considerando o que eu estava passando emocionalmente. Então teve o ‘The Ultimate Sin’, que foi uma espécie de ‘pegar ou largar’. Tem algumas boas músicas, mas eu sinto que poderia tê-lo gravado melhor”. O próximo grande álbum, para mim, foi o ‘No More Tears’”, destaca Ozzy, sobre o disco que produziu cinco singles e ganhou disco de platina quádrupla.
Voltando a 2010, Ozzy proclama que o “Scream” tem uma vibração diferente. “Quando escuto um disco antigo, como um do Sabbath em que cantei, eu sempre volto ao que estava sentindo quando fiz o álbum. Eu vou com a melodia. Nós fazemos a melodia primeiro. As letras e a melodia. Meu pai costumava dizer ‘se você não tem uma melodia, então não tem uma canção’. Deus o abençoe, mas eu acho que se ele ouvisse algum Hip-Hop, ele iria falar pra caralho. Alguma das letras do Hip-Hop são fenomenais, de verdade. Então se você tem uma grande letra, por que não coloca uma boa melodia vocal? Eu não me importo se você tem uma canção e algum Rap, então uma melodia junto”.
Com uma banda formada pelo baterista Tommy Clufetos, pelo baixista Blasko, tecladista Adam Wakeman, e o novo guitarrista Gus G., Ozzy fala da mudança que veio com a saída de Zakk Wylde. “Não mudou tanto assim, a não ser pelo fato de que achava que estava começando a soar como… qual o nome da banda do Zakk Wylde? Meu cérebro já não é muito confiável. Black Label Society. Eu estava começando a soar como o Black Label Society”.
Ozzy insiste que Wylde não foi demitido. “Eu não quero que ninguém pense, nem por um minuto, que eu demiti ele. Eu nunca fiz isso. Ele nunca saiu. Não havia nada de onde sair, porque tudo o que ele estava fazendo era o show dele (NR: com o Black Label Society) e o meu, e isto meio que se ‘colidiu’. Mas eu tive que deixá-lo ir, porque antes eu do que ele.
Osbourne espera que os fãs dêem uma boa chance a Gus G. “Apenas dêem uma chance a Gus, porque houve um tempo em que Zakk era o novo cara, Jake E. Lee foi o novo cara. Dêem uma chance a ele, apenas dêem uma olhada. Não esperem Zakk, porque ele não é Zakk”.
“Gus toca as canções do jeito que foram escritas. Não quero dizer que Zakk é ruim. Zakk é fenomenal. Eu o amo, continuamos bem, amigáveis. Sua banda está indo muito bem. Nós – ele e sua esposa eu e Sharon – até saímos para jantar há algumas noites”.
Com o lançamento do novo álbum agendado para 22 de junho, Ozzy está indo para a estrada divulgar “Scream”. “Estaremos na estrada pelos próximos um ano e meio”, ele conta. “Tenho uma relação de amor e ódio com turnês. Eu amo quando está indo bem, e não gosto quando não estou cantando direito. Eu não farei 18 meses seguidos. Farei cinco ou seis semanas, e um intervalo, então teremos algumas lacunas”.
Sobre a vida na estrada, Ozzy diz que, na verdade, é bem chato. “A parte mais excitante do dia é quando você está no palco. Quando tenho estes dias de folga… Quer dizer, só tem a CNN para assistir. Eu não saio. Não há nada lá fora que eu queira”.
Então o que os fãs podem esperar desta turnê? “Estou tentando tocar algumas canções diferentes, mas irei sentar com minha banda e passar a lista. Eu tenho um universo de canções muito bom para escolher, entre as coisas do Sabbath e as minhas. Isto é incrível! Eu tenho feito isso por 42 anos. Estou impressionado”, ele gargalha.
“Eu não fumo mais, não uso drogas e não bebo”, fala orgulhosamente. Sobre a família, Ozzy insiste: “meu filhos fazem o que querem, desde que não seja ilegal ou idiota, mas todos somos culpados de fazer coisas idiotas às vezes”. “Minha família é muito legal, mas isso pode mudar numa porra de espaço de cinco segundos”, completa.
De fato, seu filho Jack está filmando um documentário sobre o pai famoso. “Eu disse: ‘Jack, não me faça parecer uma porra de um santo. Eu não sou um santo’. Porque você sabe, você parece um cara no canal de biografias, e eles irão dizer o quão maravilhoso você é. Bom, nem Jesus Cristo foi sempre maravilhoso. Não houve nem uma vez em que ele disse ‘porra, eu não estou a fim pregar nesta montanha’”?
Contudo em sua verdadeira dicotomia, Ozzy termina a entrevista falando à repórter: “Te amo. Deus te abençoe. Fique bem”.
Realmente.
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